De acordo com o mestre Howard Marks é a “natureza indeterminada dos eventos futuros” que cria o risco de investimento. Tentar prever com precisão o que pode acontecer daqui a um, três ou cinco anos é impossível, quem dirá um ou dois meses. Se soubéssemos tudo o que vai acontecer, não haveria nenhum risco, e investir seria significativamente mais fácil, todos ganhariam. Mas ganhariam de quem? De onde viria o fluxo financeiro se todos ganham de maneira fácil?
É fundamental, então, pensar em “diversos resultados”, considerando o potencial de cada cenário de investimento e o impacto que ele pode ter nos preços dos ativos.
O futuro deve ser visto não como um resultado fixo que está destinado a acontecer e capaz de ser previsto, mas como uma gama de possibilidades e, com base na percepção de suas respectivas chances, como uma distribuição de probabilidade.
Nessa mesma direção, a campeã de poker, que virou “decision strategist”, Annie Duke defende no seu livro “Thinking in Bets” uma postura probabilística para nos sentirmos mais confortáveis com a incerteza do dia-a-dia para tomarmos decisões mais inteligentes em qualquer situação da vida, minimamente pensadas, não reféns do acaso (desculpe Taleb, mas é preciso planejar mesmo assim).
Em quase todas as decisões, de esportes a negócios e relacionamentos pessoais, existem fatores que podemos controlar e prever, e outros que não podemos e não temos nenhum controle.
Qual a certeza de que um plano funcionará? Qual é a gama de resultados possíveis? A recompensa possível justifica o risco? Uma chance de sucesso de cinco em seis pode ser ótima para um investimento, mas não para uma roleta russa.
Quando se domina a arte de pensar sempre com probabilidades, conseguimos distinguir os resultados das tomadas decisões e não nos incomodamos quando boas decisões dão errado, afinal, se a probabilidade está ao nosso lado o resto é pura casualidade (não te abandono totalmente Taleb).
Como o futuro tem sempre múltiplas composições de probabilidades e não sabemos qual delas vai ocorrer, podemos apenas dizer qual é a mais provável e posicionada ao nosso favor.
Mas mesmo estando corretos sobre a composição das probabilidades sobre determinado evento futuro, podemos ter um resultado totalmente desfavorável. De fato, é normal e aceitável em nosso meio obter um resultado péssimo mesmo tomando uma decisão inteligente e amplamente fundamentada.
Como contar jujubas em um saco. Caso alguém tenha nos contado a composição das cores da jujuba dentro do pacote, por exemplo, 80 jujubas vermelhas e 20 azuis, saberíamos, nessa situação, as probabilidades exatas.
Nesse caso, deveríamos apostar pesado nas jujubas vermelhas nesse jogo, dado que as chances de tirar seria de 4 para 1. Essa seria uma decisão inteligente.
Mas, poderia ocorrer de retirarmos uma jujuba azul, afinal, sabíamos da existência dessa cor dentro do pacote. A cor vermelha predomina, mas ainda assim poderia sair uma azul. O resultado desfavorável (jujuba azul) não indica erro no processo de tomada de decisão em cima de probabilidades conhecidas (4 para 1).
Risco e recompensa podem parecer um conceito fácil de entender inicialmente, mas há muito mais risco do que parece à primeira vista, muito além de jujubas coloridas.
Ou você acha que depois de uma (totalmente possível) sequência ruim retirando 19 jujubas azuis do pacote seria inteligente mudar sua estratégia? Quem sabe, poderia até cogitar abandonar o jogo neste ponto por não confiar na estratégia inicial e sentir desconforto o que já perdeu até aqui?
Pensando em probabilidades abandonamos a busca pela certeza, mas, por outro lado, melhoramos nossa avaliação de fatos, escolhas e chances. Isso nos ajuda a diferenciar erros de sorte e momentos de azar de brilhantismo.
Investir acaba sendo um processo de análise macro e microeconômica somado a estudo profundo de probabilidades, e se não dominarmos esse conceito, instantaneamente ficamos em desvantagem.